Wednesday, December 18, 2019

Dizes-me que aqui, neste lugar,
não brotam corações
por não ser uma casa.

Casa não é um lugar,
nem uma família
nem sequer uma canção.
Casa é algo
em que não se pode tocar
mesmo que nos atrevamos.

Casa está lá sempre
e permite-nos reabastecer,
é casulo,
é pista de lançamento,
reino de guerreiros estafados.

Casa é essência,
faz o homem e faz a mulher
e faz a criança brilhar.

Casa é tudo
e eu sinto-me nómada.

Tuesday, December 10, 2019

Há os que tiram os sapatos
para dar a quem não os tem.

Há os que tiram os sapatos
para dar a quem não os tem
e filmam o seu acto
de caridade e altruismo.

Há os que não tiram os sapatos
para dar a ninguém
mas se queixam dos outros
terem filmado o seu acto
de caridade e altruismo
em vez de simplesmente dar.

Há os que tiram os sapatos
para dar a quem não os tem
sem filmar o acto
mas se queixam dos outros
terem filmado o seu acto
de caridade e altruismo
em vez de simplesmente dar
e até gostariam que alguém
tivesse filmado o seu acto
de caridade e altruismo
e ainda para mais
de sublime modéstia
e o tivesse tornado público
sem a sua permissão.

Há os que não tiram os sapatos
para dar a ninguém.

Wednesday, December 4, 2019

Comprai chapéus que combinem com a vossa perna.
A cabeça fica tapada
e não tem de combinar com nada.
Comprai de seda, comprai de lã,
comprai azuis ou de uma cor vã,
mas comprai, por amor do céu,
não andeis por aí de cabeça ao léu.

Enchei o chapéu de ideias
antes de enfiar na cabeça,
para que as quereis nas meias?
Tirai-as antes que o diabo as teça.
O diabo tece meias, mas não as veste,
tem cascos nos pés, o senhor da peste;
não lhe tenhais medo, dai-lhe um abraço,
chorai-lhe no ombro, chorai de olho baço.

Que os chapéus que comprardes,
deus ou o diabo queira,
combinem com a vossa perna
seja ela perna fina
seja ela perna torta
porque ao chapeleiro
pouco lhe importa.

Thursday, November 21, 2019

A Corte das Cortinas Roxas

És a doença ou o sintoma?
Não faças cara de cacto
nem pose de arlequim,
se és a doença exijo a cura,
se és sintoma... deixa-te estar.
Há quanto me conheces?
Trombas de cervo e pés de peixe,
mas sempre bem vertical,
danças comigo quando não mexo
e abraças-me só no final.
Deixa-me estar,
se não dancei foi porque não quis,
a valsa era bizarra
e o salão não era euclideano
ou pelo menos não tanto como eu queria.
Euclides está morto
e tu talvez também devesses estar.
Mas já que aqui estás, ainda,
vai ver se o céu está roxo.
Se não estiver, caminha,
caminha até que ele esteja
e não te atrevas a voltar
até que um pequeno vislumbre
da mais cândida roxidão
te revele a tua fraqueza.
Deixa que essa centelha perdure,
deita mais lenha no teu carvão
e mais carvão no motor
da água de aquecer os pés.
E depois deita-te. A ti.
Pés estendidos, bem lavados,
pálpebras pintadas de roxo por dentro
e deixa-te dormir, ao relento.
Deixa-te dormir
e deixa-me estar.

Saturday, November 16, 2019

Maria da Inocência

Vem, pobre inocente,
deixa-me que te mostre
o outro lado do mundo.

Dá um passo em frente,
fecha os teus olhos
só um segundo.

Vem, mulher de virtude,
descontrai a face,
entreabre a boca.

Sim, faz bem à saúde,
não ficarás débil,
talvez de voz rouca.

Vem, rapariga monge,
larga a minha mão
mas não pares, não.

Esses tambores ao longe
são só o bater
do teu coração.

Vem, minha descarada,
deixa-me que te mostre
o outro lado do mundo.

Vês, não custou nada,
e juntos chegámos
bem até ao fundo.

Tuesday, November 12, 2019

A Fábula de Jorge José Espiga

Parte 1

Jorge José de Souto Espiga era niilista.
Por vezes, lamentava a sua condição repleta de vazio.
Na maior parte das vezes aceitava-a, aquela infecção pragmática que o impedia de ver a beleza no mundo. Aquele tédio de tudo. Para Jorge José, todas as coisas eram iguais e a diferença entre todas as coisas era sempre a mesma diferença.
Não fazia questão de mostrar a ninguém o quão niilista era, fazia-o em sigilo. Afinal, se o anunciasse em voz alta, quem o ia saber era apenas humano e inútil como ele próprio e não havia diferença.
Pensava por vezes na ciência e na fútil ambição pelo espaço, mas o espaço para ele era aborrecido porque era demasiado simples, sempre os mesmos átomos, sempre os mesmos astros. Para Jorge José, a humanidade só poderia crescer para dentro, porque para fora não valia a pena. Nunca valera a pena. Não havia diferença.
As artes tinham-no cativado no passado, até se aperceber do quão humanas eram. A imagem para ele já nada significava, não via beleza nas coisas de se ver. Quando se deparava com algo que cheirasse a estética, sentia-se desamparado. Como um daltónico aponta e pergunta a alguém, "que cor é?", Jorge José olhava uma paisagem, uma pessoa, um quadro e perguntava, "é belo?"
Tentou a poesia, mas esta estava tão atrasada em relação aos tempos que não lhe pareceu valer a pena. Não havia diferença. Começou então a desprezar as palavras.
“As palavras pegam em nós, pequeninos,
E removem-nos da natureza.”
Pensava para si.
Ao culpar a linguagem, a sua ligação com o mundo entrou em curto-circuito.
Quanto mais conhecia deste mais se aborrecia. Já não havia qualquer tipo de magia num quintal escuro e abandonado pois sabia que era apenas mais um quintal.
Mesmo com a sua falta de emoções, podia-se dizer que Jorge José era um homem triste. Não era triste por tristeza, mas por falta de alegria. Por outras palavras, era neutro, o que na linguagem corrente é englobado dentro do conceito de triste. Era a Suiça das emoções, sem a ganância associada.
O próprio dinheiro e a matéria tão pouco valor tinham para ele que vivia na miséria por falta de vontade de viver na opulência. Identificava-se melhor com uma vida vazia, como ele. Era um homem atormentado. Pensava muito, era existencialismo cristalizado. Quando o existencialismo toma forma humana, aí, era ele.
Frequentemente, algo gritava dentro dele e era a própria voz dele e não se calava um segundo e não se calava um segundo e não se calava um segundo.
O mundo é preto e branco
Não era esquizofrenia porque ele não ouvia vozes.
O suicídio é a reposta
A única voz que ouvia era a própria.
Não sabes que o sentido da vida é o cancro?
Não há um de nós que para ele não caminhe
Porque das vozes dos outros só ouvia ruído.
A vida é como os mortos
Eco.
Os mortos são como a vida
Resíduos de tudo aquilo que ouvia ao longo do dia.
Não faz diferença
Não fazia diferença.
Não faz diferença
Não fazia diferença.
Não faz diferença
Não fazia diferença.
Não faz diferença
Não fazia diferença.
Decidiu perguntar à voz.
Quem és tu?
Sou tu, mais novo
Quão mais novo?
Tão mais novo quanto te levou a ouvir esta resposta
Riu-se. Ria-se muito quando estava sozinho.
Um dia apercebeu-se de que queria mais do mundo
que sempre quisera mais do mundo
Então conheceu Carolina. Cortejou-a, beijou-a e levou-a para a cama. Ela era muito afectuosa e ele partilhava com ela emoções que não tinha. Carolina engravidou e era menino. Jorge José queria chamar-lhe de Frederico em honra a Nietzche. Ela disse:
“Vamos chamar-lhe Fred. Só Fred. É mais bonito e é o nome que (uma qualquer apresentadora de televisão) acabou de dar ao seu filho. Vai ser popular.”
Jorge José aceitou, porque não fazia diferença.


Parte 2

Jorge José educou Fred colocando o niilismo numa gaveta sempre que estava na sua presença. Mostrou-lhe o mundo, e enquanto lho mostrava percebeu que a apreciação do mundo e das suas coisas era mais cultural do que biológica e que, como todas as coisas culturais, podia ser preservada. Disse-lhe o nome dos pássaros do quintal, das estrelas do céu escuro e das plantas do caminho onde passeavam os dois cães.
Os legos, a Playstation, as brincadeiras improvisadas com os brindes dos ovos Kinder e os filmes da Disney ou da outra empresa parecida que toda a gente confundia, tudo lhe servia de ponte para o mundo. O filho cresceu e começou a escrever poesia, a defender os animais e a sonhar com profissões nobres e mundos brilhantes e utópicos. O pai não queria crer nas tendências românticas do seu filho, mas aceitou-as. Começou a aceitar mais do mundo, graças à presença do filho. Sempre com o niilismo no bolso. Sempre educando-o a ser. A ser. Como ele nunca fora.
Com a adolescência, Fred afastou-se naturalmente do conforto do colo dos pais. Arranjou uma namorada, queria estar sozinho, queria crescer, queria evoluir. A mãe preocupou-se muito, o pai deixou-o estar, para ele, não havia diferença.
Fred passava horas no computador
Descobriu primeiro os videojogos
Depois as piadas desinspiradas que circulavam por www aqui e www ali
Depois a pornografia
Depois os jogos com pornografia
Também lá fez amigos
Amigos que o compreendiam
E assim percebeu
Que somos um cérebro que possui um corpo
E não uma corpo que contém um cérebro.
E se ele podia ser apenas na rede e sem corpo, para quê sequer ter um corpo, para quê fazer parte do mundo físico quando se é uma mente, quando se é dados, e porque não juntar todas as consciências de todos os humanos numa gigante base de dados em harmonia sem os inconvenientes motrizes e biológicos?...
Continou sempre a vaguear pela rede
Conheceu o 4chan
E acedeu à deep web através da Tor
E viu tudo o que lá se vendia
E viu tudo o que lá se oferecia
E todos os vídeos mudos que por lá pairavam
E todos os gritos mudos das crianças que lá eram traficadas e das formas de se livrar de um cadáver e das drogas e seringas com sida que se vendiam e algo quebrou.
Não era a internet. Não era a música pesada que Fred ouvia. Não eram as companhias. As drogas que experimentou ou o álcool ou o tabaco. Não era a falta de exercício físico nem as complicações na relação com a namorada que se sentia rejeitada quando ele não tirava o cu da cadeira em frente ao ecrã. Não. O mundo… desligou-se. Como apenas ele o sabe fazer. Quando o mundo se sacode e alguns dos seus filhos caem da superfície da realidade.
Fred de Sousa e Espiga suicidou-se no dia do seu próprio nascimento, com 17 anos em ponto. Comprou uma corda, temperou-a para não que não irritasse a pele e enforcou-se. Foi a namorada quem o encontrou. Gritou muito.
No momento da sua morte, o último pensamento de Fred foi o medo de estar a desapontar o pai, que dedicara anos da sua vida a mostrar o quão bela ela é.
O que é um rio
-ou o mar-
senão um conjunto ininterrupto de poças?

Não tenhamos medo de meter a pata na poça,
afinal de contas
é a pata quem faz a poça.

Ainda que não tenhamos força de pernas
para deixar uma poça em cada passo,
caminhemos em passos de lã-
mas caminhemos.
Quem me dera nunca ter aprendido ciência.
Poder olhar alguém e ver o seu aspecto
sem pensar no esqueleto que está por dentro
todos os músculos e órgãos
e como todos temos pequenos cancros dentros de nós
que se poderão ou não desenvolver.
Ver apenas rostos com emoções estampadas
simples como os rostos o são
simples como as emoções o são.

E se não tivesse explorado tanto o cinema
talvez não visse todos os operadores de câmara
e o director
e tudo o que não aparece no ecrã
de cada vez que tento ver um filme.

E tu poderias falar comigo
sem risco de ser estudada
em cada palavra
em cada gesto
ou trejeito.

Th. Liouville

Diz o teorema de Liouville
que toda a função inteira e limitada é constante.
Eu não sei bem quem foi Liouville;
só sei que era francês,
que fazia matemática,
não sei sequer se gostava de matemática,
sei que agora está morto.
Talvez seja melhor assim,
a matemática continua...

Saturday, November 9, 2019

Os gatos de Kazanlak

Digo-vos que os gatos de Kazanlak
não são meigos por escolha - é a vida.
Qualquer restaurante que os atraque
é com promessas de comida.

São eles por uma fatia de fiambre
e nós por uma promessa de vida decente...
Os gatos de Kazanlak
são mais ou menos como a gente
(menos o fraque).

Stara Zagora

As árvores não têm pudor na sua nudez
porque se despem para o solo agasalhar
quando neste roça o vento frio.

Na sua amarelada tez,
despem-se à beira-mar,
despem-se à beira-rio.

Todas, sim, de tronco duro,
de peito à mostra e fruto rijo -
mas não as censuro,
não as corrijo.

Despem-se lentas, mas sem sedução,
folha a folha, sem rodeios;
e porque as plantas não têm visão,
não têm medo de olhares alheios.

Thursday, November 7, 2019

Os minutos não esperam pelas areias.
Escorrem impacientes e sem dó,
ignorando as horas e os segundos.

Os minutos, em si, são mais rebeldes
do que todas as outras unidades.
Enrolam-se nos erros do dia,
enrolam-se nas verdades.

Quem me dera não ter mais minutos de vida,
ter só horas e dias e anos,
ter medidas humanas e dignas,
sem semi-viveres e semi-planos.

Os minutos não esperam pelas areias...
Enquanto que os minutos escorrem,
as areias apenas caem -
como os marujos pelas sereias.

Sunday, September 1, 2019

Enxertia

Imagine-se ser uma planta de vaso
e ser-se transplantada para a terra,
deixar-se espreguiçar as raízes
e absorver todos os nutrientes
e todos os poluentes
sem distinção,
sem discriminação. 

Monday, May 13, 2019

Aos desertos, a chuva não faz saudade.

As dunas nunca precisaram
de plantas que as enraizassem.
Nunca necessitaram de apoios de braço
para permanecer as poltronas confortáveis
que são e sempre foram.

E os cactos,
por mais que tenham os braços erguidos,
nunca pediram abraços.
Os espinhos estão à vista de todos
para que ninguém se iluda,
para que ninguém caia na miragem
de no deserto encontrar um amigo
ou um amante para abraçar.

E os oásis
obtêm a sua água de aquíferos
tão profundos e tão intercalados
nas camadas de terra
que nunca ninguém os viu,
nunca ninguém os sonhou.

Aos desertos, a chuva não faz saudade
porque as areias não ambicionam
nunca a ser mais do que areias.

Friday, April 12, 2019

Esboço

Cabelo castanho, triste e observador,
a combinar com o olhar.

Um corte na sobrancelha esquerda
(do lado direito para quem olha de fora)
e um sinal na face do mesmo lado,
oculto por um tufo de barba cigana.

Nem alto nem baixo,
mais magro que gordo,
braços finos, tudo fino,
tudo o que se vê à mostra.

Expressão impávida
para contrastar
com todas as pávidas
que se vêem por aí fora.

Não porta sonhos,
não porta ambições,
não é porta para nada,
é apenas janela.

Pouco ou nada sente,
o pobre coitado
por mais que tente
está sempre desligado.

Tudo isto por fora; por dentro, nada.

Friday, April 5, 2019

Ode ao chão

Ninguém me avisou que tudo acaba.
São eles os culpados da minha dor,
os outros, os que se preocupam mais
com as suas vidas do que com a minha.
Nunca sonhei que num bater de asas
o mundo virasse do avesso,
que o fino tecido da realidade,
fabricado com tanta precisão pelas
mãos que aquecem as minhas
(mãos que me são uma luva)
pudesse ser rompido e profanado
por mãos de aranha, pés de ogre,
pela garra encurvada de abutres famintos.
Mas a culpa não é minha.
Eu vivi a minha vida como devia,
como me ensinam nos livros da escola,
nas igrejas e mesquitas e sinagogas,
vivi a olhar para o chão com uma paixão absoluta.
Com um solo tão belo, porquê olhar em frente?
Porquê olhar o céu que não pode ser pisado?
Avé chão. Pai chão.
Não posso ser culpado por vaguear
com as mãos a tapar os ouvidos
se nunca me informaram que todas as grandes obras
foram feitas por mãos sulcadas,
que cada página da história
cortou um dedo desprevenido,
que todos os monumentos deixaram a sua assinatura
calejada na mão de alguém.
Mas quando o mundo treme bruto,
por mais domada que seja a ovelha,
ela irá correr, balindo para longe,
até não se ouvir mais do que o eco
de uma sinera a tilintar.
Tlim. Tlim. Tlim.
E quando o mundo parou de tremer,
escutei, de ouvidos atentos,
com as mãos a agarrar uma barra de ferro
para não cair redondo.
E mirei o movimento da cidade
que formigava rua acima.
E todos olhavam em frente.
E todos olhavam o céu.
Uns de mãos nos bolsos,
uns de mãos ocupadas,
mas todos escutavam atentamente.
Eu nunca os tinha visto.
No chão, apenas via vermes
e sempre pensei ser um deles.

Nuclear

O mundo é barulhento.
Todos os ruídos se arrastam
como uma nuvem de fumo
pelos ares, Puff!
O mundo todo é feito de bips.
No céu, um avião
sobe e por baixo eu
entro no hotel
pelo lobby pejado de gente
e alguém nas escadas sobe e pede
um kebab e perguntam-lhe
a que sabe e provavelmente sabe bem,
desde que haja fome
no estômago tudo cabe e paremos por aqui.
Bip. Bip. Bip.
E eu sou um reactor nuclear
à espera para explodir.
E quando explodir,
eu expludo com um Boom,
um Kapow, um Bang maior
do que todas as coisas que já pisaram a terra.
Todos os rios da Europa correrão para a sua nascente
e lá no oriente soará um gongo,
Pum!
Todas as mascaras cairão ao chão
e todas as verdades do mundo
assobiarão pelas ruas,
Fzzzzzzzzzzzzzz.
Uma gargalhada de triunfo
irá encher o ar quente, apimentado,
Ahahahahah,
mas não estará cá ninguém para o ouvir.
E quando a última águia
cair morta no seu voo
e a Terra não for mais
do que uma orbe flamejante,
a atmosfera guardará apenas
um silêncio.
Um silêncio.
Um silêncio repetitivo.
E eu estendo-me na cama
e sonho…

Monday, February 11, 2019

The Crazy One

How many sparks can you fit in your head,
which ones will jump out before you are dead,
which ones will just flicker and stay,
how many of them will dare burn away?

What can you do with the ones that are left,
how will you handle their crackling sound,
how long will it be until you are deaf,
when will your fire stop spinning around?

Better keep walking, one sparkle at a time,
and leave some fiery red footprints behind,
take a good sip of that throat-burning tea
and let the fire decide who you want to be.

Tuesday, January 8, 2019

Entre o sismo que houve na Indonésia
e a actriz que se lançou da falésia
não sei qual mais lamentar.
A eles, leva-os agora o mar.

Wednesday, January 2, 2019