Sunday, July 17, 2016

Ecrã

A vida não é para mim,
sou meramente um espectador.
Miro o mundo, contemplo a dor
e morro a minha vida assim.

Pintei, então, uma janela caiada
com pó do meu próprio osso
e uma cortina de cetim bordada
com sonhos que tinha em moço.

Do vidro baço, vejo um duro
mundo pobre e sem nexo,
e vidrado no vidro escuro
vejo ainda o meu reflexo.

Ah, se eu pudesse ser um deles!
Dançar à luz da Lua, dançar
e cantar até me faltar o ar
naquele mundo tão reles.

Mas os meus cantos são abafados.
Eu sou uma mão esticada a medo
que acordou demasiado cedo.
A vida não é para todos.

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