Tuesday, July 25, 2017

Treno pelo Verso

Um dia vai acabar a poesia.
As estrofes não morrerão;
irão definhar, verso a verso,
como um sabonete esquecido
numa caixa cheia de água.
Nesse dia direi,
Haja poemas! Talvez eles acordem e passem a haver sob vontade própria, poemas sencientes, capazes de sair à rua sob os próprios pés, de dizer olá ao vizinho e ainda de lhe pedir uma xícara de açúcar. E se o vizinho responder com ar de poucos amigos.
Nesse dia direi,
Haja açúcar! Para adoçar os poemas, que tanto se esforçam por ser doces, mas são tentados pelo amargo sabor do café. E quando deixarem de explorar as criancinhas em África e na América de baixo, e me faltar o grão torrado, aí é que me queixo.
Nesse dia direi,
Haja café! E um petisco para acompanhar, uns amendoins salgados, ou daqueles com piri-piri que picam como o mais laranja dos melões que foi esquecido a amadurar, lá no fundo. Que não esqueçam todos eles...
Nesse dia direi,
Haja melões! Para nos alimentar, mesmo que não seja algo que se come todos os dias, mas como estes não são dias e hoje é dia de Verão, sabia bem uma fatia e mais outra de presunto no pão, que às vezes falta ao poeta, coitado de mim. E quando me acabar o pão...
Nesse dia direi,
Haja pão... País do sol nascente. Tanto dava para estar aí, sob uma das tuas cerejeiras, lendo um doce poema, comendo um pão de melão e beberricando um café negro frio de lata retirado de qualquer máquina de venda automática.

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