João José era pastor
e namorava uma moça da cidade.
Sabia já metade do amor
mas nem metade da verdade.
e namorava uma moça da cidade.
Sabia já metade do amor
mas nem metade da verdade.
Conheceu-a um dia na vila,
à Madalena de cabelos dourados
que cheiram a camomila,
quando lá foi fazer uns recados.
Ela sorriu e trincou o lábio,
deitou-lhe um olhar penetrante.
O pastor tinha pouco de sábio
e tal olhar foi o bastante.
Convidou-a para jantar
Rojões com pimenta preta.
Tangentes ao rio, sob o luar,
Manuseou-a como carreta.
Já mais leve, já mais monge,
acariciava ele Madalena
quando o pastor ouviu ao longe
a sua cabra mais pequena.
Face longa e amuada,
olhar cheio de nada,
"Ou eu ou ela, é bem certo"
disse a musa em decreto.
João José ergueu as calças
e sem a camisola de alças
nem o chapéu de linho
apressou-se no seu caminho.
Os gritos mais e mais perto
o passo célere e aberto
até na encosta mais maldita
ver a doce e breve cabrita.
Num suspiro plácido
segurou-a nos braços.
Surtia um gelo ácido,
carne rija como cabaços.
Gemendo de medo e frio
morreu a cabra pequena
e encontrou-se à beira-rio
com a cabra da Madalena.