Sou poeta, sim, mas não trovador.
Não me borboleteiam emoções no peito.
Na verdade não me borboleteia coisa nenhuma
em parte alguma.
Porque as borboletas estão lá fora
e eu estou cá dentro
e nunca engoli uma borboleta
nem dei à minha alma assente na Terra asas
nem projetos de asa
nem se sequer tecido com que se possa
fazer asas
nem barbatanas
nem qualquer outra estrutura orgânica
ou mecânica
motriz.
A alma em si não é orgânica
nem mecânica.
As ideias ora vão para fora
ora voltam para dentro,
mas nunca ficam a fazer sala,
nunca deixo que de mim se aproveitem
sem pagar renda.
Assim, sempre que a cobro
certifico-me que não resta renda
com a qual tricotar asas.
Mantenho a minha hegemonia
sobre o meu corpo
e tudo o que nele reside.